sexta-feira, 3 de junho de 2011

Guerra do Contestado: Pelados x Peludos; Messianismo; "Virgem" Maria Rosa & Instituição do Serviço Militar no Brasil

Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado foi um conflito,
Perigoso, cruel e aflito...
Entre a população camponesa,
Repleta de coragem e beleza,

Contra os políticos do poder,
Que não respeitavam nenhum ser
Numa região misteriosa e faceira...
Rica em erva-mate e madeira!

Paraná e Santa Catarina...
Disputaram este pedaço de terra,
Onde quem mandava era uma "Virgem" menina...
Assim surgiu esta guerra!

A fronteira entre estes dois estados...
Recebeu o nome de Contestado...
Porque os agricultores,
Com suas nobres dores,

Contestaram a doação que o governo brasileiro
Fez para para uma empresa do estrangeiro!
O Governo desapropriou terras para construir uma ferrovia...
Isto gerou aos camponeses muita tristeza e agonia!

Um monge formou uma comunidade...
Para lutar contra a injustiça de verdade!
Assim aconteceu a Guerra do Contestado,
Que a nossa História nunca vai deixar de lado.
Luciana do Rocio Mallon

A Guerra do Contestado foi um conflito armado que ocorreu na região sul do Brasil, entre outubro de 1912 e agosto de 1916. O conflito envolveu cerca de 20 mil camponeses que enfrentaram forças militares dos poderes federal e estadual. Os conflitos ocorrem numa área de disputa territorial entre os estados do Paraná e Santa Catarina, onde ambos os estados contestavam o direito de posse das terras, sendo essa a origem do nome pelo qual a região e consequentemente a guerra ficaram conhecidas: CONTESTADO

Foram muitas  às  causas  que  deram  origem  a Guerra  do Contestado,  entre  as  principais pode-se levantar a questão dos limites entre Paraná e Santa Catarina. Quem mais sofria com essa situação era a população. Havia mudanças contínuas de autoridades dos dois estados, contratos e casamentos  eram  cancelados  e  impostos  eram  cobrados  pelos  dois  estados.  Existia  ainda: grilagem  de  terras  por  parte  dos  grandes  proprietários  sobre  os  pequenos  sitiantes  e  posseiros; opressão,  mandos e desmandos dos Coronéis; e ainda a ação violenta da Brazil Railway.
Alguns antecedentes da Guerra do Contestado:
Ação judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites.
Construção da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, de 1908 a 1910.
Instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization em Calmon (1908) e em Três Barras (1912).
Disputas eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios.
Religiosidade: Messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla.
Ideologia Nacionalista – Civilismo na República – Reestruturação do Exército.
A Brazil Railway  - empresa  responsável pela construção e  funcionamento da estrada de ferro São Paulo- Rio Grande  -  recebeu a concessão para exploração de até 15 quilômetros para cada  lado da estrada. O  intuito era a exploração da madeira e a colonização. Para  fazer valer o contrato,  a  empresa  iniciou  a  expulsão  dos  agricultores  e  caboclos  (grande  parte  destes  não possuíam título de propriedade das terras) que viviam basicamente dos ervais que estavam sendo destruídos  pela  madeireira  da  Brazil  Railway,  a  Southern  Brazil  Lumber  and  Colonization Company. Assim os problemas  já existentes na  região  foram  intensificados pela ação da Brazil Railway.
A maioria da população da Região do Contestado era formada por uma população cabocla, pobre e inculta, de índios, negros e lusobrasileiros que, ao longo dos anos, havia se internado nos sertões e nos campos e vivia do cultivo de roças, criação de porcos selvagens, extração da erva-mate, tropeirismo de carga e trabalhava nas fazendas de criação de gado como peões ou agregados.
A forte ascendência portuguesa dos caboclos abrigava a crença importada do sebastianismo lusitano. Assim, a população revelava expressões de messianismo e de muito misticismo. Diante da ausência praticamente total da Igreja Católica, os sertanejos buscaram conforto espiritual nos monges, profetas, curandeiros, pregadores e eremitas, que peregrinavam pela região, dentre eles destacando-se dois, de nomes João Maria de Agostinho e João Maria de Jesus.

João Maria  foi personagem messiânico-milenarista, de origem  italiana, que  teriam chegado ao Brasil em 1844. Ele  teria  andado  por  diversas  regiões  do  país.  Era  um  peregrino,  curador,  benzedor,  rezador, ermitão, monge, conselheiro, profeta e messias. A chegada de João Maria ao Brasil coincide com grande  efervescência  social  e  política  e  também  significativas  mudanças  provocadas  pela Abolição da Escravatura, Proclamação da República, entrada de grandes projetos multinacionais, colonização européia e implantação da Lei de Terras de 1850. Os  caboclos  acreditavam  que  ele  era  um  enviado  de  Deus  para  trazer conselhos, cura, profecias e auxílio aos que necessitassem.
João Maria de Agostinho dedicava-se a convencer as populações sertanejas de que deveriam erguer cruzes em certos locais (normalmente 14, o número de estações da Via Sacra de Cristo), usar fontes especiais de águas curativas, não comer carne aos sábados e guardar uma vida de respeito e penitência. Identificado pela falta de dois dedos na mão direita, nunca mais foi visto depois de 1870.
Quando os monges, confundidos como um só na figura imaginária de São João Maria, desapareceram, surgiu outro, Miguel Lucena de Boaventura, que adotou o nome de José Maria, o qual, depois de sair do Palmas, no Paraná, chegou à região de Taquaruçu, em Santa Catarina, onde foi acolhido como irmão de João Maria e tido como “novo monge”.

Em 1912, na cidade de Curitibanos,  José Maria, já associado ao monge João Maria foi convidado para a Festa do Bom Jesus na comunidade de Taquaruçu, em 6 de agosto daquele ano; José Maria atraiu um grande número de doentes e a aglomeração, ao invés de se dispersar ao final da festa, foi aumentando.
O Superintendente de Curitibanos (Prefeito), Francisco Ferreira de Albuquerque, sentindo ameaçada sua autoridade, desconfiou que José Maria estivesse a serviço do maior adversário político local, acionou o então governador do Estado, Vidal Ramos, e  em  poucos  dias  um  destacamento policial  foi  enviando de Florianópolis  a Taquaruçu para dispersar os sertanejos, acusando-os de fanáticos e monarquistas. Numa  tentativa  de  escapar  da polícia  e  evitar  um  confronto  do  qual  nem  sabia  a  razão,  o curandeiro José Maria  e aproximadamente  40 homens  rumaram  para  Faxinal  do  Irani,  nos  Campos  de  Palmas,  que  se  encontrava provisoriamente  sobre  administração  do  Paraná.  A  chegada  de  José  Maria  e  do  grupo,  foi encarada pelo Paraná como uma  invasão ao território. Assim a polícia paranaense resolveu agir. Então  em  22  do Outubro  de  1912  ocorreu o  combate  do  Irani,  sob  comando  do Coronel  João Gualberto. O  resultado  foi  à morte  de  diversos  combatentes  dos  dois  lados,  principalmente  na força paranaense, além da morte de José Gualberto e do próprio José Maria. Com  a morte de  José Maria  os militares  consideravam  que  o movimento  havia terminado. Todavia, antes do Combate do Irani, José Maria teria afirmado que morreria e voltaria um ano depois junto ao “Exército Encantado” de São Sebastião. Com essa profecia os sertanejos se  espalharam  ficando  no  aguardo  do  retorno  de  José Maria.
A morte heróica de José Maria inaugurou o tempo da esperança. Essa esperança de
seu  retorno  e  a  capacidade  de  comunicação  com  este,  teria  iniciado  o  ciclo  de  construção  de novos mediadores  e,  a  partir  destes, mobilizado  o  povo  em  torno  de  sua mensagem.  Trata-se especialmente de “Virgens”, que tinham a capacidade de entrar em contato com ele e comunicar, aos demais, sua mensagem e palavras de ordem.

O registro histórico mostra uma intensa atuação de mulheres na Guerra do Contestado, as quais são denominadas “virgens videntes”, “santas”, “líderes”, ou ainda mencionadas como pertencentes a certo homem, referindo-se à companheira de um chefe sertanejo, coronel ou fazendeiro da região.
Exemplos são “Chica Pelega”, apelido de Francisca Roberta que, durante o início da Campanha do Contestado, auxiliou o monge José Maria com as ervas medicinais e acompanhando as peregrinações.
Passado um ano da morte de  José Maria, “Virgem” Teodora, uma menina de 11, neta de Eusébio Ferreira dos Santos (um dos Pares de França)  e Querubina, começou a relatar que tinha visões de José Maria e que o monge ordenava que todos voltassem a Taquaruçu para aguardar seu retorno junto ao “Exército Encantado”. 
Talvez o nome mais popular e continua no imaginário cabloco seja Maria Rosa, definida como comandante-gera do Reduto de Caraguatá e cuja voz de comando era cumprida respeitosamente pelo povo.
Maria Rosa entrou na guerra
Na terra do Contestado,
Levando flores no cabelo
Comandou o povo armado.
Em  Caraguatá,  a  liderança  estava  dividida  entre  Elias  de Moraes  e  a  “Virgem” Maria Rosa:
[...]  uma  adolescente  dos  seus  quinze  anos,  loura,  cabelos  crespos,  pálida, alegre,  de  extraordinária  vivacidade  [...].
Maria  Rosa  não  sabia  ler  nem escrever,  mas  falava  sem  desembaraço.
Andava  amiúde  com  um  vestido Como “Virgem” e comandante, procurou manter o comando sobre os “Pares de França” e os  sertanejos.
Diferentemente  de  Teodora,  suas  ordens  não  eram  submetidas  a  um  conselho.

Os Doze  Pares  de  França,  era  um  grupo  formado  por  alguns  sertanejos  que  se  destacavam.  Eles  exerciam  as funções de defesa dos redutos, sua guarda interna, o enterramento de companheiros mortos em combate e mesmo a celebração de casamentos, como juízes de paz, além de auxiliar o comandante em suas decisões. O grupo dos Doze Pares  de  França  era  formado  por  vinte  e  quatro  sertanejos,  que  entendiam  a  dignidade  de  “par”  posta  no  livro História de Carlos Magno e dos Doze Pares de França, o qual  assinalava o fato dos cavaleiros serem iguais entre si nos atos de  bravura. Devido à dedicação que  tinham em combate, os “Pares de França” causavam pavor entre os inimigos.  
Maria Rosa permanecia trancada em um quarto, do qual só saia para transmitir as ordens que teria recebido de João Maria. Assim a partir do comando geral, ela distribuía ordens e comandos. 
Para os sertanejos, a “Virgem” era considerada uma santa e que ela “tudo sabia”. Para eles Maria Rosa  representava com  fidelidade a vontade do Monge e por isso tinha o poder de destituir, designar e sentenciar.
Lá a “Virgem” Maria Rosa 
No reduto é que mandava,
Ninguém mais intrometia
Pois, só ele comandava; 
Nomeou todos cabeças
Os que mais considerava.
Diversos foram os feitos de Maria Rosa enquanto “Virgem” e comandante. Dentre eles o Combate de Caraguatá e a Evacuação do reduto. No Combate de Caraguatá, em março de 1914, que  é  considerado  um  dos  mais  violentos  da  guerra, Maria  Rosa  atuou  como  comandante,  a batalha foi vencida pelos “pelados” contra os “peludos”. 
O saldo foi de 24 mortos, 21 feridos e 3 desaparecidos nas tropas oficiais, e 37 mortos entre os defensores do reduto.
Deve ter sido dela a idéia de usar táticas  inspiradas em traquinagens adolescentes, que se mostraram decisivas para a expulsão do inimigo e por isso ecoaram pelo planalto como proezas de batalha. "Durante a refrega, os sertanejos empregaram todos os seus ardis de lutadores do mato.
Uma coluna de sertanejos vestidos com roupas de mulheres distraía os soldados, enquanto vários franco-atiradores, escondidos em ocos de imbuias e em galhos elevados de araucária, dizimavam a coluna militar. (...) Soldados eram atraídos, por determinados caminhos, para o interior da mata e emboscados em locais sem saída, cheios de  espinheiros de inhapindaí"
No final do mesmo mês, Caraguatá foi evacuado  devido  a  uma  epidemia  de  tifo.  Há  ainda  outros  motivos  que  teriam  servido  de incentivo para a mudança. Maria Rosa teria recebido um mensagem de José Maria avisando que as  forças policiais voltariam a atacar e por  isso era necessário providenciar a mudança dos fiéis.
Assim, a “Virgem” comandou a evacuação e comandou a marcha com mais de duas mil pessoas, além de animais e mantimentos para o reduto de Bom Sossego.
Para o Contestado foram deslocados oito mil soldados do Exército (mais da metade do efetivo) e contingente semelhante com forças paranaense, catarinense e vaqueanos (capangas contratados). O Exército,  contudo, evitou os confrontos  diretos, preferindo promover cercos através de colunas chegando pelos quatro cantos dos redutos. O objetivo era reprimir todo o comércio dos sertanejos, que geralmente trocavam erva-mate e couro por armas, munições e mantimentos. A fome levou a rendições em massa de sertanejos no início e no final de 1915, e no começo de 1916.
O General Setembrino de Carvalho (o quarto da direita para a esquerda), Comandante do Quartel General das Forças em Operação de Guerra no Contestado, em visita de inspeção à vila de Porto União da Vitória, em janeiro de 1915. Para combater os caboclos, o Exército Brasileiro convocou batalhões de todo país e também comissionou o Regimento de Segurança do Estado do Paraná, que cedeu 500 policiais militares para apoiá-los nas ações bélicas na Região do Contestado, em Santa Catarina. Com o restabelecimento do tráfego de trens pela Ferrovia São Paulo - Rio Grande na Linha que margeia o Rio do Peixe, as composições eram usadas para o transporte de tropas, víveres e munições, entre os rios Iguaçu e Uruguai
(Foto superior) Marchando no campo de futebol da Vila Canoinhas, o 56º Batalhão de Infantaria, do Exército Brasileiro, comandado pelo Coronel Onofre Ribeiro. A este destacamento coube a operação de guerra Linha Norte, para proteger a Lumber, as fazendas, vilas e povoados nos vales dos Rios Canoinhas, Paciência e Timbó, ao Sul dos rios Negro e Iguaçu, na Região do Contestado, inclusive na Linha Leste, na área entre Rio Negro (Mafra), Papanduva e Itaiópolois. Para a sua Campanha do Contestado, o Exército trouxe à região mais de 6.500 soldados, das armas da Infantaria, Cavalaria e Artilharia, das unidades do Rio de janeiro, Bahia, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, equipadas com fuzis, canhões, obuseiros e metralhadoras.
(Foto inferior) Civis Armados, que integravam os vários piquetes contratados pelo Exército Brasileiro para auxiliá-lo nas investidas contra os caboclos na Guerra do Contestado, de 1913 a 1916. Estes civis eram peões das grandes fazendas da região, recrutados pelos fazendeiros – coronéis (da Guarda Nacional). No detalhe, os facões, tipo “lapeano” ou “paraguaio” com uma lâmina de aço de 50 cm., muito usados pelos ervateiros daquela época para o corte da ilex paraguaiensis nos ervais nativos, que também eram a principal arma dos sertanejos revoltados.
Com a Região do Contestado cercada por mais de 8.000 soldados do Exército, do Regimento de Segurança do Paraná e de esquadrões civis da Guarda Nacional, os caboclos catarinenses ficaram meses seguidos sediados em seus redutos, tomados pela fome e pelo frio e, acometidos por tifo. Sem mais condições de resistência e de sobrevivência nas matas, muitos se renderam aos militares, na esperança de obterem a liberdade e de serem instalados nas terras devolutas. Aqui, um grupo que se apresentou em Canoinhas, saboreando um churrasco, sob o olhar de Henrique Wolland, o “alemãozinho” (que foi o chefe de reduto e depois traiu os caboclos, passando a apoiar o Exército), ladeado por meninas “virgens” e por curiosos soldados.
Forças da Infantaria do Exército Brasileiro entrincheiradas ao redor da serraria da Southem Brazil Lumber & Colonization Company, em Três Barras. As trincheiras eram construídas utilizados dormentes da imbuia da Estrada de Ferro. Foto de junho de 1914 quando o exército enviou os regimentos para proteger a sede da empresa norte-americana, ameaçada de destruição pelos rebeldes do Contestado. 
Em 5 de setembro de 1914, os caboclos conseguiram incendiar totalmente a serraria e os depósitos de madeira serrada da Lumber em Calmon
Logo depois do Combate do Irani (22 de outubro de 1912) – um ano antes da grande ofensiva militar contra Taquaruçu, na deflagração da Guerra do Contestado (em dezembro de 1913) – forças do Exército Brasileiro e do Regimento de Segurança da Paraná, oriundas de Ponta Grossa e Curitiba, que formaram a “Coluna Pyrrho” atravessam a vila de União da Vitória, e direção à Fazenda Horizonte, marchando pela Estrada Estratégia até a vila Palmas e o povoado de São João do Irani, com a missão de perseguir sobreviventes do grupo que lutou ao lado monge João Maria, no combate em que foi morto também o capitão João Gualberto, comandante da força paranaense, e também para patrulhar os trilhos da estrada-de-ferro no Vale do Rio do Peixe.
A perseguição dos rebeldes que restaram foi  feita por capangas dos coronéis, financiados pelo Estado. "Os vaqueanos literalmente caçavam caboclos no mato, sendo pagos pelo número de orelhas que apresentavam. É uma época da guerra chamada de "açougue", diz o historiador Paulo Machado. As estatísticas, muito imprecisas, variam de 3 mil a 30 mil mortos. "Em combate, não chegariam a mil.
Mas a fome matou famílias inteiras nos redutos, seguramente mais de 10 mil pessoas", estima o historiador.

Acampamentos militares das forças de um Pelotão de Trem do Exército, na Fazenda São Roque, em março de 1915, protegendo a reconstrução da sede (escritório) da serraria da Lumber em Calmon, que havia sido Incendiada a 6 de setembro de 1914 pelos piquetes dos “fanáticos” (sic) catarinenses. Sob os olhares complacentes das autoridades federais e estaduais, a Lumber estava devastando a rica Floresta da Araucária, na parte setentrional da Região do Contestado, extraindo e serrando milhares de pinheiros e imbuia, ao mesmo tempo em que impedia os sertanejos de extraírem erva-mate e colher pinhão, e os expulsava das terras, que estavam sendo demarcadas para venda a imigrantes europeus
Em fins de 1914, uma Companhia do 2º Batalhão do Exército Brasileiro, auxiliada por civis cedidos por fazendeiros e trabalhadores da EFSPRG, faz o restabelecimento da linha telegráfica da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande entre Rio Negro e Canoinhas, considerada necessária para as comunicações entre os oficiais das colunas militares, na área em conflito da margem esquerda dos rios Negro e Iguaçu. A linha havia sido destruída pelos caboclos da Guerra do Contestado, no final do inverno. Nesta Campanha pela primeira vez o Exército utilizou telefones, substituindo telégrafo, usando linha de fios erguida entre a estação de Rio Caçador e povoado de Perdizes (hoje a vila de São Sebastião do Sul
A guerra terminou somente em 1916, quando as tropas oficiais conseguiram prender Adeodato, que era um dos chefes do último reduto de rebeldes da revolta. Ele foi condenado a trinta anos de prisão.
Terminada a Guerra, Paraná e Santa Catarina chegam a um acordo sobre a Questão de Limites e a colonização da região é intensificada. O desenvolvimento que aconteceu a passos largos, preserva, contudo, o espírito inconformista e empreendedo do homem do Contestado, que venceu as adversidades de uma região inóspita e conflitante na luta por sua sobrevivência e na busca de seus direitos.
Monge João Maria: Guia espiritual da Região do Contestado. Período em que peregrinou pela região: 1844 a 1870.
Monge José Maria: Seu verdadeiro nome era Miguel Lucena. Se dizia descendente de outros monges messiânicos anteriores e como tal, benzia, curava, batizava e reunia gente ao seu redor com palavras proféticas, que incluíam a sua morte e posterior ressurreição. Ameaçado pelos coronéis da região do Contestado, o Monge e um grupo de sertanejos descolam-se para o Irani, em terras que o Paraná considerava suas, palco do primeiro combate da guerra. A 22 de outubro de 1912, na região denominada Banhado Grande, José Maria e seu grupo são atacados por soldados do Paraná.
Percival Farquhar, empresário norte americano, cuja atuação na América Latina é alvo de constantes polêmicas. Nascido numa abastada família da Pensilvânia, completou seus estudos na Universidade de Yale. Teve negócios ligados a ferrovias e mina, nos Eua, Rússia e Cuba, além de outros países da América Cenral. No Brasil, explorou diversos empreendimentos ferroviários, principalmente no sul do país, onde sua empresa a Southern Brazil Lumber & Colonization Company foi responsável por parte da destruição ambiental da mata Atlântica da região, quando no início do século XX, instalou lá uma das maiores serrarias da América do Sul, gerando conflitos terríveis como a Guerra do Contestado, que veio a vitimar mais de trinta mil sertanejos.
João Gualberto Gomes de Sá Filho nasceu em Pernambuco, em 11 de outubro de 1874. Aos 16 anos de idade, ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro, graduando-se como alferes em 1894. Posteriormente mudou-se para o Paraná. Em 1912 foi escolhido para Prefeito de Curitiba, no entanto, desistiu desse cargo para assumir o comando do Regimento da Polícia Militar, no posto de Coronel em 21 de agosto e em 22 de outubro do mesmo ano, morreu em combate no Combate do Irani, um dos episódios da Guerra do Contestado.
Afonso Alves de Camargo, foi um político paranaense nascido em Guarapuava em setembro de 1873. Mudou-se para Curitiba ainda jovem, onde ocupou diversos cargos, chegando a vic-presidente e depois Presidente de Estado do Paraná, como se chamava o título do governo estadual na época. No cargo de vice-presidente do Estado atuou como advogado na defesa dos interesses do Paraná durante a Guerra do Contestado.
Ruy Barbosa de Oliveira, nasceu em Salvador em novembro de 1849 e foi um jurista político, diplomata e escritor. Um dos intelectuais mais brilhantes de seu tempo. Foi também um dos organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República. Primeiro Ministro da Fazenda do novo regime, destacou-se, também, como jornalista e advogado. Durante a Guerra do Contestado, defendeu os interesses do Paraná, como advogado e lobista da Southern Brazil Lumber & Colonization Co. Inc., grande empresa que integrava o grupo empresarial de Percival Farquhar.
Francisco Ferreira de Albuquerque, político catarinense, foi comerciante, intendente de Curitibanos, presidente da câmara dos deputados e vice-governador de Santa Catarina. Foi tenente-coronel da Guarda Nacional e era Prefeito da cidade de Curitibanos à época da Guerra do Contestado. Foi assassinado em 1917, a mando de seu rival político, o coronel Henrique de Almeida Filho.
População da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes.
Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Timbó, Três Barras, União da Vitória e Palmas.
Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos e Canoinhas.
Início da Guerra: Outubro de 1912, em Taquaruçu.
Final da Guerra: Janeiro de 1916, em Perdizinhas.
Combatentes militares no auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis contratados.
Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante a Guerra.
Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos e desertores.
Baixas na população civil revoltada: de 5.000 a 8.000, entre mortos, feridos e desaparecidos
Com a vitória, quem mais ganhou com o conflito foi o Exército Brasileiro que, vindo de desgastes anteriores desde a Guerra do Paraguai, Campanha de Canudos e participações desarticuladas, desorganizadas e desastrosas nas intervenções em diversos Estados da incipiente República, passou a se apresentar como uma organização nacionalista, sólida e responsável, digno de respeito, assim abrindo caminho para – conforme a pregação de Olavo Bilac – a instituição do Serviço Militar no Brasil.
Cessados os combates na região, em agosto de 1916, no Rio de Janeiro, os governadores do Paraná e de Santa Catarina assinaram um “Acordo de Limites”, dividindo entre si o Território Contestado. Com isso, após a homologação do documento pelos legislativos estaduais, os catarinenses assumiram de fato a administração das terras ao Sul dos rios Negro e Iguaçu, nos vales dos rios Timbó, Timbozinho, Paciência e Canoinhas e a Oeste do Rio do Peixe.
Em 19 de janeiro de 1918, a União anistiou todos os envolvidos.
A Guerra do Contestado começaria a entrar para a História do Brasil do Século XX.
Parte do piquete civil de Pedro Ruivo, formado por caboclos catarinenses e paranaenses, considerados “peludos”, a serviço do Exército, num momento de desconcentração, antes de entrar em combate na região do Timbó.

Efetivamente, o desenvolvimento econômico na Região do Contestado começou quando da chegada das primeiras levas de imigrantes europeus, alemães, italianos, poloneses e ucranianos, e de descendentes de imigrantes, na maioria ítalo-brasileiros e teuto-brasileiros, que vieram tanto para explorar a floresta, em latifúndios, implantando a indústria da madeira, como trabalhar na agricultura, em minifúndios.

Para a posteridade, o Homem do Contestado deixou como legado  uma herança cultural que inclui: uma lição de valentia e de bravura, não se submetendo à tirania e à opressão, preferindo lutar e morrer tentando ser livre; a consolidação do exemplar regime de minifúndios policultores, provando a todos a possibilidade de, mesmo pequeno, ser grande; o nobre sentimento de defesa de seu patrimônio ambiental, desde quando o equilíbrio ecológico passou a ser ameaçado pela devastação; finalmente, uma contribuição ímpar na descoberta de caminhos para levar os população local a conquistar a sua cidadania através da ação comunitária.
Fontes:  01) As “Virgens Messiânicas”: participação e influência das “Virgens” Teodora e Maria Rosa
no Contestado (1912-1916) 
Autora:  Natália Ferronatto da Silva - Universidade Federal de Santa Catarina
02) Lideranças do Contestado
Autor: Paulo Pinheiro Machado, Campinas, Ed. da UNICAMP, 2004.
03) A Guerra dos Fanáticos - O Contestado, Cia Máscaras de Teatro.
Peça em cartaz no Teatro Lala (http://www.teatrolala.com.br), em Curitiba, 6a.Sab e dom, de 13 de maio de 2011 a 03 de julho de 2011.
Texto e Direção: João Luiz Fiani : "A Guerra do Constestado é inspiradora para a nossa geração. É um legado de importância inegável para todos nós que pensamos no futuro dessa nação. E nada melhor que a arte para espelhar a realidade e nos fazer refletir sobre ela."
A Guerra dos Fanáticos - O Constestado, é um espetáculo épico, com músicas executados ao vivo pelo elenco, o que dá maior emoção a um espetáculo que pela natureza do tema se propõe a tratar de fortes emoções.

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Existe uma linda arara azul,
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Com estrelas cheias de doçura!

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Luciana do Rocio Mallon

Um comentário:

  1. Olá Teo! Coincidentemente estou lendo o livro citado no seu blog "Casa Verde" do Noel Nascimento. Também lembrei dos tempos de cursino do Dom Bosco onde o professor Gilberto de história contou: o Capitão João Gualberto volta dentro de um saco preto; depois de dizer que acabaria com o conflito na primeira investida do governo brasileiro (pseudo).

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